SEMINÁRIO
ECONOMIA
E POPULAÇÕES QUILOMBOLAS
Local: Goiânia
Data: 08 a 10 de junho de 2006
Organizadores:
Emília Pietrafesa de Godoi (Diretora Regional da ABA
2004-2006/Unicamp)
José Maurício Arruti (CEBRAP / KOINONIA)
Realização:
ABA – Associação Brasileira da Antropologia
MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário
Justificativa
Sabe-se que a
separação da economia das outras esferas da vida como o parentesco, a política,
a religião etc, é um produto da história e como tal não se operou de modo igual
por toda parte e em todas as sociedades, nem sequer em todos os grupos no
interior de uma mesma sociedade. Assim, quando discutimos a economia camponesa,
ou de comunidades rurais, um dos aspectos que salta aos olhos é o modo como ela
vem imbricada em outros domínios do universo social, não podendo ser entendida
divorciada destes. Isso é tanto mais relevante quando temos em foco comunidades
que, contemporaneamente, destacam os elementos de memória e cultura – mais que
os relacionados à economia e ao trabalho material – na definição de suas
identidades – tanto as específicas, quanto a categórica, voltada a uma
mobilização política nacional – como acontece com os grupos quilombolas.
Quais as
particularidades que o ideal camponês da autonomia do trabalho familiar, por
exemplo, assume em contextos como esses? Mesmo quando está presente a “troca de
dias de trabalho” ou até a “venda e a compra de dias de trabalho”, as relações
produtivas se estabelecem na esfera da solidariedade e são pensadas
principalmente por meio de categoria que exprimem a reciprocidade entre iguais,
vizinhos e parentes, em oposição ao “trabalho sujeito” ou “cativo” – categorias
usadas para o trabalho subordinado às ordens de um patrão. Mas como tais noções
de liberdade e de cativeiro, opostas no discurso camponês sobre o
mundo do trabalho, se articulam na memória e na organização social
contemporânea dos grupos descendentes de ex-escravos, forros ou quilombolas?
Enfim, é possível formular uma série de perguntas semelhantes a estas, mas que
sugerimos ser possível traduzir em duas questões fundamentais. Há, de fato,
alguma singularidade na economia quilombola capaz de a distinguir no conjunto
das economias camponesas? Ou, em quase simétrica oposição a esta questão: O
quanto parte das características atribuídas a um campesinato genérico, por
parte da sociologia brasileira, tendeu a apagar particularidades que hoje podem
(e devem?) ser colocadas em relevo por meio da observação de uma “singularidade
quilombola”?
Objetivos
Este seminário pretende dar uma formulação mais
precisa e rigorosa a essas questões e apontar para possíveis respostas, por
meio do debate sobre a reflexão antropológica acerca das chamadas comunidades
quilombolas (ou remanescentes de quilombos, territórios negros, terras de preto),
assim como sobre o estado atual das iniciativas produtivas que partem da
suposição dessa diferença. A intenção é que este Seminário se constitua num
espaço de trabalho, do qual deverão resultar documentos - como os relatórios
dos grupos de trabalho e das exposições dos projetos dos gestores públicos,
além das comunicações que serão apresentadas por antropólogos - que possam ser
reunidos em uma futura publicação.
Metodologia
O Seminário está estruturado em três partes,
realizando em um primeiro momento uma discussão conceitual antropológica sobre
a economia em contexto quilombola, seguida da exposição dos programas dos
gestores públicos de projetos destinados a estas comunidades e, por fim,
reunindo em grupos de trabalho participantes de movimentos e entidades de
assessoria e apoio convidadas ao seminário, propõe o debate, subsidiado pelas
discussões anteriores, das experiências concretas das comunidades.
Na primeira mesa-redonda, “Organização Social, Saberes Patrimoniais e
Economia”, serão tratados aspectos fundamentais da economia camponesa
como esfera imbricada em outras dimensões da vida, a especificidade da
organização desse trabalho em contextos de reduzida ou nenhuma acumulação de
capital, que faz uso direto de um conhecimento acumulado sobre a terra e demais
elementos da natureza, assim como quais seriam as particularidades destes
aspectos no contexto das comunidades rurais negras.
Na
segunda mesa-redonda, “Projetos de
Desenvolvimento em Comunidades Quilombolas – perspectivas”, aquelas e
outras questões devem ser confrontadas com a descrição de experiências e
projetos econômicos e de desenvolvimento sustentado oficiais, expostas por seus
administradores ou beneficiários.
Nos grupos de trabalho,
em que os participantes estarão reunidos, serão debatidas as experiências
práticas de projetos de desenvolvimento quilombola em diálogo com as exposições
anteriores.
Ao final, na
plenária de encerramento, serão apresentados os relatórios da segunda
mesa-redonda e das discussões dos grupos de trabalho, abrindo-se para
manifestações da plenária, que também deverão ser registradas por um relator.
Programação
1o. Dia
9:00
Abertura
: Seminário
Economia e Populações Quilombolas
Miriam Grossi – Presidente da ABA
Peter
Fry – Vice-Presidente da ABA
Andrea Butto - Coordenadora do
PPIGRE/MDA
9:15 - 12:40
Mesa-Redonda: Organização Social, Saberes
Patrimoniais e Economia
Moderador: José Maurício Arruti
(CEBRAP / KOINONIA)
1a.
Parte (9:15-10:45)
Expositores: Emília Pietrafesa (Unicamp)
Alfredo Wagner Berno de Almeida (UFF)
Vânia Fialho (UFPE)
Debatedora:
Neide Esterci (UFRJ)
Pausa para café
2a. Parte
(11:00-12:40)
Expositoras:
Rosa Acevedo (UFPA)
Maristela
Paula Andrade (UFMA)
Miriam Furtado
Hartung (UFSC)
Debatedora: Ellen Woortmann (UnB)
14:30 – 17:30
Mesa-Redonda: Projetos de Desenvolvimento em
Comunidades Quilombolas – perspectivas
Moderador: José Augusto
Laranjeira Sampaio (UNEB)
Expositores:
Representante do ITESP
Representante
do ITERPA
Representante
do MDA
3
representantes (nacional e regionais) do Movimento Quilombola
Debatedor: Mauro William Barbosa de Almeida (Unicamp)
Relatora: Joceline Trindade (UFPA / MDA)
2o. Dia
9:00 – 12:00
Grupos de Trabalho: Projetos de Desenvolvimento
em Comunidades Quilombolas - expectativas,
impactos e desafios
Reuniões
de Trabalho por grupos de interesse. Cada grupo deverá debater as experiências
práticas de projetos de desenvolvimento quilombola de seus participantes, em
diálogo com as exposições anteriores. Um relator por grupo deverá registrar os
debates e apresentar seus resultados na tarde do mesmo dia.
14:00 – 18:00
Plenária:
Apresentação dos relatórios
resultantes das discussões dos grupos de trabalho e da segunda mesa-redonda,
abertura para manifestações da plenária e encerramento.