O Lapf foi criado em 2008 no âmbito do Departamento de Educação da PUC-Rio, tendo sido registrado no diretório do CNPq entre 2009 e 2011. Seu objetivo foi a promoção da análise dos processos de agenciamento de identidades, memórias e territórios coletivos, em sua relação com os processos de produção e transmissão do conhecimento, tanto em suas modalidades escolares quanto não escolares. A partir de 2012, porém, suas atividades regulares foram encerradas. Este espaço permanece disponível como registro desta experiência de pesquisa e como meio para que seus antigos participantes eventualmente possam continuar divulgando e promovendo o tema.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

GT sobre 'Agenciamentos Classificatórios, Processos de Mediação e Representação Política' na 28a. RBA

GT03 AGENCIAMENTOS CLASSIFICATÓRIOS, PROCESSOS DE MEDIAÇÃO E REPRESENTAÇÃO POLÍTICA.
Coordenadores:
Wilson José F. de Oliveira (UFS)
José Maurício Arruti (PUC-Rio)

28ª Reunião Brasileira de Antropologia

Ementa:

Este GT propõe reunir trabalhos dedicados ao estudo das diferentes formas de mediação envolvidas nas dinâmicas de instituição de sujeitos políticos em demandas por direitos (territoriais, ambientalistas, religiosos, educacionais, sexuais, etc.) sustentados em reclassificações sociais. Priorizamos o estudo dos atores sociais em luta pela constutuição de novos modos de representação que, sustentado em estratégias de objetivação de identidades pensadas como primordiais, contribuem para uma crescente reconfiguração do modelo de representação política mais ampla. Para isso, destacamos o conceito de mediação, de forma a enfatizar tanto o problema dos mecanismos de produção de consenso em torno de certos modos de postular diferenças, quanto o campo prático-discursivo no qual os grupos não só são representados, mas propriamente instituídos. O debate em torno desta problemática se organizará em torno de três eixos:
- o das dinâmicas locais, nas quais o reconhecimento público dos sujeitos coletivos se constrói pari passu aos processos internos de identificação;
- o dos agentes e campos de mediação, em especial aquele configurado a partir da interface entre academia, instituições, organizações e movimentos sociais diversificados; e
- o das formas de nominação estatal e de definição de políticas públicas e de formas de acesso a direitos.

28a. RBA - Tema: “Desafios Antropológicos Contemporâneos”
Data: 02 a 05 de Julho de 2012
Local: PUC-SP
Para submeter propostas de atividades para a reunião acesse o endereço eletrônico
http://www.28rba.abant.org.br/ e confira as regras gerais.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A TEMÁTICA QUILOMBOLA NO BANCO DE TESES DA CAPES

RELATÓRIO PIBIC
A TEMÁTICA QUILOMBOLA NO BANCO DE TESES DA CAPES: MAPEAMENTO PRELIMINAR
Aluno: Alainaldo Onofre Cardoso
Orientador: José Maurício Arruti

RESUMO

Introdução
O presente relatório apresenta o levantamento e a análise quantitativa da participação da
temática quilombola na produção acadêmica registrada no banco de teses da CAPES. Este
mapeamento é parte dos esforços do Laboratório de Antropologia dos Processos de Formação
do Departamento de Educação da PUC - Rio em construir instrumentos e subsídios para
investigações sobre a condição das comunidades quilombolas do país e, em especial, com
relação à sua situação educacional.

Objetivos
Analisar quantitativamente a incidência da temática quilombola na produção acadêmica
registrada no banco de teses da CAPES no período compreendido entre 1990 a 2010.
Construir instrumentos e subsídios para investigações sobre a situação das comunidades
quilombolas do país com ênfase na perspectiva educacional.

Metodologia
A metodologia adotada consiste em: [1]. Localização das teses/dissertações sobre o
tema “Quilombo” na base de dados da CAPES; [2]. Inserir essas informações em uma
planilha do Programa Excel; [3]. Classificação desse material nas seguintes áreas do
conhecimento: Educação, Antropologia, História, Direito, Ciências Sociais e Outras; [4]. No
campo de educação, distribuição das teses nas seguintes categorias: Ano, Nível, Sobrenome,
Nome, Título, Área, Instituição, Outros dados de Referência, Orientador, UF, Resumos, Nível
de Ensino e Questão Analítica; [5]. Análise do material adquirido; [6]. Construção do
relatório parcial referente a este trabalho.

Conclusão
       Tendo em vista o andamento do projeto, defino como achado preliminar o aumento
significativo da produção acadêmica referente ao tema em questão a partir do ano de 2004.
Seu ápice ocorreu no ano de 2008 com a produção de 10 teses/dissertações de mestrado e uma
de doutorado. Essa informação me possibilita examinar acerca do que incidiu neste período
para fomentar o aumento significativo da produção acadêmica nessa direção.  Uma das
hipóteses é o lançamento do Programa Brasil Quilombola, em 2004, pela Secretaria Especial
para a Promoção da Igualdade Racial oferecendo maior visibilidade à causa quilombola no
âmbito nacional. Departamento de Educação.

Referências Bibliográficas
BARTH, FREDRIK. Os Grupos étnicos e suas fronteiras.Tradução de John Cunha
Comerford. São Paulo: UNESP, 1998.
ARRUTI, José Maurício Andion. A emergência dos “remanescentes”: notas para o diálogo
entre indígenas e quilombolas. In: Revista Mana 3 (2): pp. 7-38, 1997.
ARRUTI,José Maurício Andion. Quilombos. In: Raça: Perspectivas Antropológicas. [Org.
Osmundo Pinto]. ABA / Ed. Unicamp / EDUFBA.
ARRUTI, José Maurício Andion. Mocambo: Antropologia e História do Processo de
Formação Quilombola. Bauru, SP – Edusc, 2006. 370 p. (Coleção Ciências Sociais.

Clique aqui para ler o relatório na íntegra.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

‘Caminho Quilombola’ – Interpretação constitucional e reconhecimento de direitos étnicos

‘Caminho Quilombola’ – Interpretação constitucional e reconhecimento de direitos étnicos
de André Luiz Videira de Figueiredo

[link]


PREFÁCIO
Por José Maurício Arruti



Depois dos primeiros reconhecimentos oficiais de comunidades quilombolas no estado do Rio de Janeiro, no ano de 1999, emerge aquilo que poderíamos chamar de um ‘campo quilombola’ no estado. Este campo, ainda hoje muito tímido em suas conquistas e frágil em sua organização interna, foi instituído pela expansão rizomática, lenta, desigual, tantas vezes falha e fantasiosa de informações acerca dos novos direitos a que as comunidades negras, principalmente as rurais, poderiam ter acesso por meio da sua reclassificação, de camponeses, trabalhadores rurais, posseiros, assentados ou outras, para quilombolas.

André Videira de Figueiredo foi, desde quase o primeiro momento, um companheiro de observação deste processo. As reuniões de estudo e debate sobre a situação destas comunidades, nas quais reuníamos cientistas sociais, militantes políticos e militantes do campo jurídico (desde jovens acadêmicos em formação até defensores públicos e procuradores da república) constituíram o cenário no qual desenvolvemos uma sólida parceria materializada em projetos e textos, mas, principalmente, uma rica amizade. Sua presença, como antropólogo e professor de sociologia jurídica, ocupou uma função importante na tecitura tanto da rede de atores sociais envolvidos nestes encontros, quanto nos diálogos que mantínhamos por meio deles.

Esses encontros de estudo e debates acabaram se transformando também no espaço para onde a curiosidade movia pessoas diretamente envolvidas com estas comunidades, trazendo informações sobre seus conflitos e dramas sociais, assim como levando de volta informações colhidas junto aos pesquisadores e advogados que haviam se interessado por sua situação. Em alguns casos, tais encontros acabaram por gerar assessorias jurídicas gratuitas aos casos apresentados, assim como a elaboração de relatórios preliminares.

Foi neste contexto que tivemos contato, pela primeira vez, com a situação da família do ‘seu Dito’, mais conhecida como Família Leite, que nos foi apresentada como Comunidade de Alto da Serra. Uma ‘família’ que vivia o drama de um forte racismo institucional, que lhes tornava invisíveis frente aos serviços da municipalidade e às políticas do estado, mas que, ao mesmo tempo, lhes fazia objeto permanente da delegacia local, por meio da qual eram acuados pelos pretensos proprietários das terras que ocupavam de forma pacífica há mais de 50 anos. Rapidamente ‘seu Dito’ e sua família passaram ao centro do nosso interesse e André foi tomando a frente no acompanhamento da situação.

O livro que vocês têm em mãos materializa, portanto, vários encontros e um determinado momento que eu considero crucial na formação do campo quilombola no Rio de Janeiro, ganhando diversos níveis de significação. Minha intenção aqui é apenas destacar alguns destes significados, que eu creio ganharem um valor geral do ponto de vista da ainda breve história intelectual do fenômeno quilombola.

Em primeiro lugar, O Caminho Quilombola tem o mérito de trazer para o campo de debates próprios da Sociologia um tema que tem se mantido quase exclusivamente como objeto da Antropologia. Não tenho interesse e exagerar distinções disciplinares que, principalmente diante da tradição da Ciência Social feita no Brasil, são artificiais. Mas, de fato, há uma lacuna a preencher entre o modo pelo qual a Antropologia tem tratado das comunidades quilombolas e os debates, necessariamente mais gerais e mais teóricos, pelos quais a Sociologia, em especial a Sociologia Jurídica, tem abordado o tema das Políticas de Reconhecimento. Se, de um lado, uma Antropologia cada vez mais política, tem buscado incorporar em seu vocabulário e no seu campo de análise etnográfica categorias como mediação, esfera pública, campo jurídico, muito mais dificilmente, porém, a Sociologia se mostra disposta a investir suas categorias e modelos de análise sobre um campo empírico repleto de detalhes etnográficos, categorias nativas, simbolismos religiosos etc., como o faz Figueiredo.

É justo desta perspectiva que eu percebo sua análise do conceito de “comunidade aberta de intérpretes” de Häberle, projetado sobre o contexto de Alto da Serra. Figueiredo descreve de que modo aquilo que em geral – sob o perigo iminente de incorrer em deslegitimação política – é descrito como simples “manipulação” das categorias jurídicas disponíveis, pode ser melhor compreendido e interpretado nos termos de uma dialética entre dois níveis da abertura da interpretação constitucional, correspondentes às diferentes escalas em que os mediadores-intérpretes atuariam. De um lado, aquela abertura que se opera no plano nacional e no sentido de uma generalização das categorias locais. De outro lado, aquela abertura interpretativa que se opera no plano local e em um sentido de adequação das categorias abstratas. A inversão simétrica entre estas operações hermenêuticas revela a homologia que liga os agenciamentos da lei nos dois planos discursivos em que a sociedade brasileira tem enfrentado a novidade quilombola, de forma que não é mais possível deslegitimar um destes planos quando se supõe a legitimidade do outro.

Ao observar de perto a ação destes intérpretes em Alto da Serra, o autor desenha uma tipologia tão interessante quanto útil para pensar outros processos de formação quilombola. Ele demonstra que é a partir de uma certa divisão social do trabalho político que surgem estas figuras híbridas de liderança comunitária e intérprete da lei, que atuam fundamentalmente de forma a mediar o acesso da sua comunidade étnica ao universo abstrato, distante e mesmo improvável, das possibilidades da lei. Este trabalho de mediação, que parte dos antropólogos chamaria de tradução, ao ser visto como um processo de interpretação, como proposto por Figueiredo, revela como a “tensão centro-periferia”, que caracterizaria a própria “comunidade aberta de intérpretes da Constituição”, passaria a marcar posições dentro da própria comunidade quilombola.

Isso permitiria dar lugar sociológico às diferenças de posição entre dois tipos ideais: aqueles que, participando ativamente das práticas interpretativas, assumem uma postura ativa na definição da fronteira que delimita e dos conteúdos que preenchem a idéia de uma “identidade quilombola”; e aqueles que se mantém na condição de consumidores alienados das novas categorias interpretativas postas em jogo. Se de um lado temos quilombolas que assumem a condição de “consumidores qualificados do conhecimento construído”, de outro lado existem aqueles que, na periferia do processo de interpretação coletiva que configura o próprio processo de identificação étnica, não ultrapassam a posição de simples adesão à iniciativa coletiva. Estes últimos constituem uma categoria de atores que mantém uma posição ambígua diante da etnicidade.

Outro mérito do livro é o de realizar uma das tarefas fundamentais da etnografia, qual seja, a de registrar as formas locais de organização social e sua tradução em categorias de descrição e entendimento do mundo, que nos permitem ampliar e questionar o nosso próprio repertório de categorias. Isso é feito pela inclusão da categoria local, “tomar conta”, no complexo jogo que define a relação jurídica – pensada de forma larga – entre as categorias de posse e propriedade. Com isso Figueiredo propõe uma triangulação, no lugar das dicotomias correntes entre concreto e abstrato, efetivo e formal, ilegal e legal, normalmente estabelecidas entre aqueles termos, deslocando-os dos seus registros originais. Como revela sua análise, há em Alto da Serra uma situação complexa em que temos “terras livres” sem termos terras novas, temos uma fronteira mesmo onde a propriedade formal já se apresentaria estabelecida. Isso porque a categoria “tomar conta” surge em resposta (interpretação) ao artificialismo do vínculo que um proprietário absentista gera com a terra, ao mesmo tempo em que está na base da relação concreta que uma categoria especial de posseiros vem estabelecer com esta mesma terra. De categoria complementar à de propriedade, “tomar conta” converte-se em categoria concorrente, ao gerar uma relação objetiva com a terra que, no decorrer de um longo espaço de tempo, desequilibraria o conjunto de obrigações mútuas que a categoria supõe. Como o proprietário não assume qualquer compromisso com o ocupante que toma conta das suas terras, esta relação tende a esgarçar-se.

“Na prática, explica Figueiredo, trata-se de uma categoria agenciada para explicar o processo de ocupação e produção na terra e, como veremos, para articular uma concepção de direitos adquiridos sobre ela”. O que lhe permite tomar a categoria como um dos eixos de identificação como quilombola que operam no processo de auto-atribuição em Alto da Serra: a participação política, o pertencimento familiar-comunitário e a insegurança jurídica na posse da terra, revelada pela categoria ambígua de “tomar conta”. A introdução deste terceiro termo, como um marcador positivo na definição das comunidades quilombolas, quase simétrico na sua função sociológica, à categoria de “uso comum”, dá mais um e importante passo na ponte que vamos estabelecendo entre a análise antropológica dos grupos étnicos e a interpretação honnethiana que dispõe na base das lutas sociais um conflito moral, pensado então em sua positividade de motor de um agenciamento coletivo.

Finalmente, para não corrermos o risco de estender demais um texto que deve apenas chamar atenção para algumas das qualidades do livro, vale a pena destacar como a análise de Figueiredo sobre a situação da Família Leite coloca em um outro lugar o debate sobre a relação entre política fundiária, objetivo primeiro e mais importante tanto para o movimento social quanto para seus assessores e estudiosos, e as demais políticas públicas, em geral apresentadas como uma espécie de dispositivo de dispersão estrategicamente criado pelo Estado brasileiro para desviar o esforço da mobilização pela terra. Voltando á linguagem teórica do início da tese e afastando-se de uma interpretação fundada em supostas intencionalidades, Figueiredo mostra como a entrada da comunidade de Alto da Serra no campo quilombola implica a produção de expectativas e de realidades sociais que, ainda que tendo a terra no centro, não podem ser satisfatoriamente compreendidas apenas em função da política fundiária, aqui assimilada à política redistributiva. As demais políticas desempenham como ele mostra, um papel fundamental no novo lugar moral que o reconhecimento, propriamente dito, cria para aquela comunidade historicamente submetida a um silencioso e sistemático racismo. Isso certamente torna mais complexa e cuidadosa nossa visão do fenômeno.
Estas são algumas das razões pelas quais acredito que os estudos sobre comunidades quilombolas amadurecem com a sociologia produzida no Caminho Quilombola de André Figueiredo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

II Audiência para Elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola


Audiência Quilombola na Bahia

Aconteceu na última sexta-feira (30/9), 9h – 14h, no município de São Francisco do Conde-BA, a II Audiência para Elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola, promovido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em parceria com Secretaria estadual e municipal de educação, SEPROMI e CEPAIA.

Participaram dela lideranças quilombolas e do Movimento Negro, professores, especialistas em educação e gestores governamentais, sendo contabilizada a presença de 48 municípios baianos.

A audiência desdobrou-se em três momentos específicos: a) mesa oficial de abertura composta por representantes da SECADI/MEC, SEPPIR, CNE/MEC, FCP, CONAQ, Secretaria Estadual de Educação e Executivo Municipal; b) Mesa de Trabalho: A educação escolar quilombola que temos e a que queremos (escuta dos participantes e registro) e; c) Encerramento com leitura de documento síntese das propostas.

O momento mais importante da audiência, mesa de trabalho, foi conduzido pela conselheira Nilma Lino Gomes (relatora das diretrizes) e Rita Gomes do Nascimento (presidente da comissão para elaboração das diretrizes). A conselheira comentou sobre a trajetória das diretrizes dentro do CNE/MEC e o significado da mesma. Aberto o momento de escuta, cada pessoa inscrita teve o tempo de 2 minutos para realização de denúncia e de proposição.

Abaixo segue uma síntese das propostas pontuadas pela mesa:
  • Formação inicial e continuada de professores quilombolas e não quilombolas que atuam nas escolas em áreas de quilombos. Denúncia sobre a rotatividade dos professores nas escolas quilombolas;
  • Formação de gestores e de coordenadores pedagógicos;
  • Necessidade de articular a discussão da educação escolar quilombola com as políticas de ação afirmativa existentes na perspectiva de acesso, permanência e continuidade dos estudantes de ensino médio e ensino superior;
  • Estabelecer parceria com as universidades e articulação ensino, pesquisa e extensão;
  • Criação de cursos profissionalizantes para jovens quilombolas de modo a criar estratégias de permanência no local e não abandono: novas tecnologias (agricultura, pesca etc.), inclusão digital, acesso à internet, tecnologias da informação e da comunicação...;
  • Pensar a educação especial junto à educação quilombola: educação inclusiva elaborada junto às famílias a partir das demandas locais;
  • Valorização da cultura negra e quilombola;
·         Articulação entre os saberes produzidos pelas comunidades quilombolas, suas histórias e os saberes mais gerais, diversidade de saberes para além dos já conhecidos pelas comunidades;
  • Discussão de pedagogias específicas com outras epistemologias pensando o currículo da educação escolar quilombola: oralidade, ancestralidade, comunitarismo, cultura corporal, educação pela práxis, tecnologias educacionais, sustentabilidade, valorização dos saberes dos mais velhos (eixos principais);
  • Interseccionalidade entre raça, etnia, gênero e sexualidade;
  • Pensar a relação dos direitos humanos e a educação escolar quilombola;
  • Proposta de educação quilombola que tenha como um dos princípios geral a emancipação dos sujeitos;
  • Inserir as histórias específicas das comunidades quilombolas no currículo;
  • Favorecer maior tempo dos estudantes quilombolas nas escolas (o que não significa educação integral);
  • Que a alimentação/merenda escolar quilombola, ainda desconectada dos costumes locais, garanta um ‘salvaguarda’ dos modos de ser e de produzir das comunidades;
  • Garantir autonomia das escolas quilombolas na construção e gestão do PPP;
  • Gestão dos sistemas de educação e gestão da escola como viabilização do PPP e do currículo;
  • Promoção da saúde como orientação no currículo;
  • Discussão da juventude quilombola junto à discussão da escola e do currículo;
  • Discussão da infância quilombola: necessidade de educação infantil, creches. Denúncia da nucleação e do transporte escolar usado pelas crianças. Preferencia que as crianças não sejam deslocadas das comunidades. A escola tem que está perto, nas comunidades;
  • As diretrizes devem denunciar e oferecer orientações pedagógicas para as tensões existentes nas comunidades quilombolas e em geral relativas ao campo religioso. Denúncias de práticas afroteofóbicas, homofóbicas e racistas;
  • Incentivar a promoção de uma arquitetura específica na construção de escolas quilombolas, favorecendo espaços culturais e pedagógicos;
  • CNE pensar o comprometimento das secretarias estaduais e municipais para cumprimento das diretrizes nacionais para educação escolar quilombola;
  • Existência de cotas para professores e servidores quilombolas nos concursos públicos;
  • Poder público deve produzir material didático específico que dialogue com a comunidade quilombola e seja parte do currículo: crítica ao material existente e ao uso que se faz;
  • Criar orientações para os sistemas de ensino elaborar o calendário escolar em diálogo com as comunidades quilombolas;
  • Propor sistemas de avaliação específicos para educação escolar quilombola e crítica do existente;
  • Que as relações étnico-raciais sejam estruturantes das práticas de educação escolar quilombola;
  • Criar estratégias políticas para cumprimento da Lei 10.639/2003 e articulação com as diretrizes operacionais da educação básica nas escolas do campo;
  • Criação de um ‘lugar’ (coordenações) para se discutir a educação escolar quilombola, representados por quilombolas, dentro das secretarias (estaduais e municipais) e nos conselhos, inclusive com recurso governamental para garantir transporte e a participação dos representantes quilombolas;
  • Financiamento da educação escolar quilombola articulado junto ao PNE: construção de escola, material didático, programas de geração de renda, melhoria dos salários dos professores;
  • Articulação das diretrizes nacionais de educação escolar quilombola com outras diretrizes já existentes, como a do estado da Bahia;

A conselheira, por fim, pontuou o caminho a ser percorrido no processo de aprovação das diretrizes: após finalização da terceira audiência será produzido um documento contendo eixos comuns e especificidades das consultas nos estados; prevê-se que este documento seja socializado a partir de janeiro de 2012 para novas contribuições públicas. Em seguida, o CNE discute internamente o documento na Câmera de Educação Básica (CEB), o qual pode sugerir mudanças. Este sendo aprovado de comum acordo na CEB segue para o MEC, o qual será lido pelo ministro e seus assessores, onde podem homologar, devolver para reexaminar ou mesmo não homologar, este último acredita não haver possibilidade de acontecer. Afirmou que não é um processo rápido.

Convém destacar que o Estado da Bahia iniciou o processo de elaboração das diretrizes estaduais de educação escolar quilombola em 2010, onde realizou audiências públicas em três territórios do estado, assim como formação de professores quilombolas e não quilombolas em territórios não contemplados nas audiências. Atualmente o texto das diretrizes está sendo avaliado pela Secretaria Estadual de Educação, o qual será também submetido à apreciação do Movimento Quilombola no estado e encaminhado ao Conselho Estadual de Educação.

Suely Noronha de Oliveira
Mestranda em Educação PUC-RJ
Bolsista IFP - Fundação Ford

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Horizonte da política: Questões Emergentes e Agendas de Pesquisa

Adiantando o índice do livro a ser lançado em junho de 2012 pela UNESP.

A versão em espanhol acaba de ser publicada no México:
“El Horizonte de la política – Brasil y la agenda contemporánea de investigación en el debate internacional”, México: CIESAS (Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social), 2011.

Versão brasileira:

O Horizonte da política: Questões Emergentes e Agendas de Pesquisa


Prólogo
Adrian Gurza Lavalle
O Horizonte da Política 


Parte I 
A Política nas Instituições Políticas

Capítulo 1.
Argelina Figueiredo, Fernando Limongi
Que instituições políticas importam e para que importam – Lições dos Estudos Legislativos no Brasil

Capítulo 2.
Marta Arretche, Daniel Vazquez, Sandra Gomes
Descentralização e Autonomia – Deslocando os Termos do Debate

Capítulo 3.
Eduardo Marques, Renata Bichir, Sandra Gomes, Renata Gonçalves, Thais Pavez
Os Desafios da Metrópole – Desigualdades Sociais, Políticas Públicas e Segregação

Capítulo 4.
Miriam Dolhnikoff, Francisleide Maia, Hernan Lara Saez, Pedro Paulo Moreira Sales e Vitor Gregório
Representação Política no Império – Crítica à Idéia do Falseamento Institucional


Parte II
O Político e a Política Emergente


Capítulo 5
Paula Montero, José Maurício Arruti e Cristina Pompa
Para uma Antropologia do Político

Capítulo 6
Adrian Gurza Lavalle, Peter P. Houtzager e Graziela Castello
A Construção Política das Sociedades Civis

Capítulo 7
Vera Schattan P. Coelho e Arilson Favareto
Conexões entre Participação, democracia e desenvolvimento – Investigação dos impactos políticos e distributivos da participação social
Capítulo 8
Denílson Werle, Evorah Lusci Costa Cardoso, Felipe Gonçalves Silva, Luiz Sérgio Repa, Maíra Rocha Machado, Marta Rodriguez de Assis Machado, Priscila Spécie, Rúrion Soares Melo e Sérgio Costa
Para além da Inefetividade da Lei – Estado de direito, Esfera Pública e Anti-racismo

Capítulo 9
Flávia Portella Püschel, José Rodrigo Rodriguez e Marta Rodriguez de Assis Machado
A democratização do Direito – Dilemas da Juridização e Racismo no Brasil

Bibliografia em Antropologia e Educação

Este é um levantamento preliminar, que privileigiou textos disponíveis on-line, uma lista a ser explorada, montada para estar disponível à nossa disciplina de Antropologia e Educação.
jma

Proposições e avaliações de um diálogo

Autores em destaque:

Carlos Rodrigues Brandão

1981 [2007 - 49a. edição] O Que é Educação. São Paulo: Brasiliense (Coleção Primeiros Passos 20) Link 4shared: / Link Scrib: / Link Slide5hare:

S/D. Educar: Ousar utopias. Da educação cidadã à educação que a pessoa cidadã cria. Escritos abreviados. Série: cultura/educação – 6 Link:

S/D. Sobre teias e tramas de aprender e ensinar - anotações a respeito de uma antropologia da educação. Escritos abreviados. Série: cultura/educação – 8. Link:

Neusa Gusmão

1997. Antropologia e educação: Origens de um diálogo. Cad. CEDES vol. 18 n. 43 Campinas Dec. Link:

1999. Linguagem, cultura e alteridade: Imagens do outro. Cadernos de Pesquisa, nº 107, p. 41-78, julho. Link

2003. Antropologia, processo educativo e oralidade: um ensaio reflexivo. Pro-posições, vol. 14, no. 1 (40), jan/abr. Link

2008. Antropologia, Estudos Culturais e Educação: desafios da modernidade. Pro-Posições, v. 19, n. 3 (57) - set./dez. Link:

2009. Entrelugares: antropologia e educação no Brasil. Educação – Rev. do Centro de Educação da UFSM, v. 34, n. 1, jan./abr. Link:

Ana Lúcia Valente

1997. Por uma antropologia de alcance universal. Cad. CEDES vol. 18 n. 43 Campinas Dec. Link

1998. Para além do multiculturalismo: a educação intercultural na Europa. R. bras. Est. pedag., Brasília, v.79, n.191, p.7-18, jan./abr. Link:

1996. Usos e abusos da Antropologia na Pesquisa Educacional. Pro-posições n. 7, vol. 2 (20), 54-64, julho. Link:

2003. Antropologia e Educação: o antigo diálogo retomado? Rev. da FACED – UFBA. No 7. Link:

2005. O ensino na interface da antropologia e da educação: um caso de Extensão Rural. Educação. Porto Alegre – RS, ano XXVIII, n. 2 (56), p. 227 – 241, Maio/Ago. Link:


Outros autores:

CARVALHO, José Carlos de Paula.1982. Rumo a uma Antropologia da Educação: prolegômenos. Revista da Faculdade de Educação da USP, 8(2), 113-132. Link:

ROCHA, Ana Luiza Carvalho da. 2005. Antropologia e doutrinas pedagógicas: quando os devorados somos nós. Porto Alegre, GEEMPA (Coleção Textos Geempianos n.2). Link:

ROCHA, Gilmar. 2009. Antropologia & Educação / Gilmar Rocha & Sandra Pereira Tosta . – Belo Horizonte : Autêntica Editora. – (Coleção Temas & Educação; 10). Link:

SOUZA, Mauricio Rodrigues de. 2006. Por uma educação antropológica: comparando as idéias de Bronislaw Malinowski e Paulo Freire. Revista Brasileira de Educação v. 11 n. 33 set./dez. Link:

ZANTEN, Agnès van. 1999. Saber global, saberes locais: Evoluções recentes da sociologia da educação na França e na Inglaterra. Revista Brasileira de Educação. Set/Out/Nov/Dez Nº 12. Link:


O 'método etnográfico' na pesquisa em educação como problema:

CHARLOT, Bernard. 1992. A ETNOGRAFIA DA ESCOLA. Em Aberto, Brasília, ano 11, n.53, jan./mar. Link:

FONSECA, Claudia. 1999. Quando cada caso NÃO é um caso - Pesquisa etnográfica e educação. Revista Brasileira de Educação. Jan/Fev/Mar/Abr Nº 10. Link:

HASSEN, Maria de Nazareth Agra. S/D. Etnografia: noções que ajudam o diálogo entre antropologia e educação. Link:


Estudos temáticos

Relações étnico-raciais
Gomes, Nilma. 1996. EDUCAÇÃO, RAÇA E GÊNERO: RELAÇÕES IMERSAS NA ALTERIDADE. cadernos pagu (6-7). Link:

Gomes, Nilma. 2002. Trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural? Revista Brasileira de Educação, 21. Link:

Gomes, Nilma. 2003. Cultura Negra e Educação. Revista Brasileira de Educação. Maio- Ago, Nº 23. Link:
Gomes, Nilma. 2003. Educação, identidade negra e formação de professores/as: um olhar sobre o corpo negro e o cabelo crespo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.1. Link:


Gênero e sexualidade
Grossi, Miriam Pillar. s/d. IDENTIDADE DE GÊNERO e SEXUALIDADE. Link:
SABAT, RUTH. .Pedagogia cultural, gênero e sexualidade. Rev. Estud. Fem. vol.9 no.1 Florianópolis 2001. Link:

Britzman, Deborah. 2000. Curiosidade, sexualidade e currículo. Link:

BORGES, Zulmira Newlands. Entrelaçamentos entre antropologia e educação e suas contribuições para a inclusão de gênero e sexualidade como temas transversais na escola. Link:

SAYÃO, Deborah Thomé . A Construção De Identidade E Papéis De Gênero Na Infância: Articulando Temas Para Pensar O Trabalho Pedagógico Da Educação Física Infantil. Link:


Necessidades Especiais

GARDOU, Charles. 2006. Quais os contributos da Antropologia para a compreensão das situações de deficiência? Revista Lusófona de Educação, 8, 53-61. Link:

LAPLANE, Adriana Lia Friszman de /e outros/. 2006.Abordagem Qualitativa De Pesquisa Em Educação Especial: Contribuições Da Etnografia. 29º. Encontro da ANPED. GT: Educação Especial / n.15. Link:

MORAES, Marcia. 2008. A contribuição da antropologia simétrica à pesquisa e intervenção em psicologia social: uma oficina de Expressão corporal com jovens deficientes visuais. Psicologia & Sociedade; 20, Edição Especial: 41-49. Link:

MARTINS, José Alves e BARSAGLINI, Reni Aparecida. 2011. Aspectos Da Identidade Na Experiência Da Deficiência Física: Um Olhar Sócio-Antropológico. INTERFACE - Comunicação, Saúde, Educação v. 15, n. 36. Link:


Educação do Campo
VALENTE, Ana Lúcia. 2005. O ensino na interface da antropologia e da educação: um caso de Extensão Rural. Educação. Porto Alegre – RS, ano XXVIII, n. 2 (56), p. 227 – 241, Maio/Ago. Link:

VALENTE, Ana Lúcia. 2008. A EDUCAÇÃO . NO CAMPO E A SUA REALIDADE - POR UM NOVO PATAMAR DE DISCUSSÃO. Link:


Educação e infância indígena
COHN, Clarice. 2000. Crescendo como um Xikrin: uma análise da infância e do desenvolvimento infantil entre os Kayapó-Xikrin do Bacajá. Rev. Antropol. vol.43 no.2 São Paulo 2000. Link:

COHN, Clarice. 2005. Educação escolar indígena: para uma discussão de cultura, criança e cidadania ativa. Revista Perspectiva. vol.23, n. 2. Link:

GOMES, Ana Maria R. 2006. O processo de escolarização entre os Xakriabá: explorando alternativas de análise na antropologia da educação. Revista Brasileira de Educação v. 11 n. 32 maio/ago. Link:

MARQUI, Amanda. 2011. Fazendo etnografia entre as kyringué: a pesquisa com crianças Guarani Mbya da Amazônia. Jornadas de Antropologia da UNICAMP. Link:


Em torno dos processos de ensino e aprendizagem
PELISSIER, Catherine. Anthropology of teaching and learning. Annual Review of anthropology. Link:

SANTOS, Rafael José dos e ARANTES, Eduardo Manchon. “Professor, sou muito etnocêntrica!” Ou: Relato sobre a dupla dimensão da descoberta da antropologia em sala-deaula. Percursos – Ver. da UDESC. Link:

VIEIRA, Ricardo. Processo educativo e contextos culturais: notas para uma antropologia da educação. Porto Alegre – RS, ano XXIX, n. 3 (60), p. 525 – 535, Set./Dez. 2006. Link:

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Dilemas do ‘participar’ e do ‘representar’

Dilemas do ‘participar’ e do ‘representar’:
Notas sobre o IV Encontro da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas

José Maurício Arruti[1]
Suely Noronha de Oliveira[2]

Na quinta-feira, quatro de agosto de 2011, o segundo dia do IV Encontro Nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), realizado seis anos depois do III Encontro, permaneceu latente nos espaços de debate e construção coletiva a tensão existente na dinâmica de condução do encontro e de participação quilombola. Uma tensão que é reveladora das particularidades deste movimento, sobre os quais seria importante refletir.
A realização de eventos como esse da CONAQ, que tem o objetivo de reunir quilombolas de todo o país para pensar a efetivação e proposição de políticas públicas, assim como pensar a própria estrutura de organização das comunidades quilombolas em nível nacional, implicando o deslocamento destas populações, moradoras de comunidades que são desfavorecidas frente o acesso à transporte, à ausência quase absoluta de escolarização e, em geral, de outras experiências de participação em eventos políticos, requer um caráter de preparação especialmente complexo.
Eventos como este, quando promovidos por outros movimentos sociais, de classe ou sindicais, é composto por delegados eleitos pelas bases do movimento, preparados pelas organizações locais e estaduais para o debate, socializados nas regras de participação do evento, e que, visando uma maior qualidade na representação, a coordenação junto aos delegados eleitos acertam entre si, em plenária no início do evento, um tempo longo ao debate coletivo e aprovação das normas de participação, dos processos deliberativos e princípios, constados no regimento interno do encontro. Percebeu-se que a organização deste IV Encontro Nacional da CONAQ também seguiu esses preceitos organizativos e de participação.
Sem esses espaços de diálogo e de preparação, tanto dos delegados quanto da organização do evento, são grandes as chances de se desencadearem no processo conflitos e de, até mesmo, não atingir a realização dos objetivos desejados, emergindo sentimentos como insatisfação por não se sentir contemplado no número de falas e nos tempos de fala estabelecidos, insatisfação pelo cansaço e pela dinâmica estabelecida, insatisfação pela pouca compreensão dos objetivos e da metodologia utilizada, insatisfação por poucos dominarem as ferramentas de participação estabelecidas. Uma parte das tensões deste primeiro dia do IV Encontro Nacional da CONAQ parece estar associada justamente às dificuldades do movimento em dar conta destes procedimentos. Uma parte das falas dos organizadores, na mesa da abertura do terceiro dia, refletiu um pouco sobre tais tensões, explicitando dificuldades de realização do encontro.
Dentre algumas dificuldades de organização do encontro, destacamos a mesa sobre Políticas Públicas para as Comunidades Quilombolas, que teve como convidados representantes da Fundação Cultural Palmares, INCRA, MDA, SEPPIR e um Professor da UFRJ com apresentação da pesquisa “O orçamento das políticas de igualdade racial: as comunidades quilombolas”. Essa era uma mesa estratégica no encontro, pois centrava nela a possibilidade de diálogo franco com os representantes de órgãos governamentais sobre os vários problemas enfrentados pelas comunidades quilombolas frente à ausência quase total de eficiência e eficácia das políticas e programas governamentais destinados a essas populações.
Os representantes da mesa, governamentais, ao invés de centrar a fala nos objetivos a que a mesa se propôs, tangenciaram o discurso e fugiram ao objetivo proposto inicialmente a partir de instrumentos diversos, dentre eles: teorizações sobre significados de políticas públicas, falas emocionadas sobre a presença de mulheres e jovens no encontro, narração de casos engraçados vivenciados no trabalho junto à lideranças presentes na plenária e apresentação rápida de resultados dos programas, discurso sobre o não uso dos recursos disponibilizados e propostas inflamadas de apoio ao movimento.
A pouca ou nenhuma estratégia aparente de mediação da mesa, somada à indignação de alguns quilombolas na plenária,  em função da mesa não atingir os objetivos propostos pelo encontro, não dando respostas às questões reais das comunidades, acabou por gerar grande tensão, com interrupções e críticas da plenária. Isso culminou no desvio da atenção da causa do problema – ausência de conteúdo das apresentações - para as consequências dela – incômodo, indignação da plenária. Este fato fomentou conflitos na própria plenária e entre ela e a organização do evento: alguns liam o burburinho decorrente da indignação generalizada como “falta de educação”, outros o utilizaram, dentro de uma posição que se mostrou sistemática e articulada, para buscarem deslegitimar a própria CONAQ como organizadora legítima do movimento. O tempo gasto para amenizar as tensões e a desmobilização gerada inviabilizou um possível debate sobre o tema da mesa.
Diante disso, cabe a seguinte pergunta: será que a dinâmica e a forma de organização dos encontros quilombolas devem seguir o mesmo modelo dos processos ditos democráticos já instituídos e legitimados pelos movimentos sociais, a exemplo dos movimentos sindicais e partidários? A forma como encontros como esses são pensados é adequado ao modo de organização temporal e discursiva quilombola? Evidentemente não estamos sugerindo que exista uma “racionalidade quilombola” ou algo do gênero. Nem mesmo estamos sugerindo que os quilombolas formem uma unidade, que possamos reduzir a uma imagem simples, o que seria incorrer em uma espécie de “primitivismo” que só alimenta o discurso deslegitimador contra o movimento. De fato, em plenária havia uma enorme variedade de experiências de percursos de mobilização política. Porém é necessário reconhecer que a maioria dos participantes quilombolas encontrou neste evento da CONAQ, assim como tem encontrado em outros espaços de “participação” e de “representação” formal, grande dificuldade. Não seria necessário, portanto, desnaturalizar esse modelo de participação e de representação? Seria absurdo trabalhar no plano do instituinte, produzindo e testando outras “metodologias”, de modo a ampliar a qualidade da participação nestes espaços e para além deles?
O GT de Educação, neste mesmo encontro, por exemplo, recusou a metodologia proposta pelas assessorias, de dividir o grande grupo em grupos menores de discussão, que as relatariam para o grande grupo, a fim de realizarem uma relatoria sintética. Reivindicaram uma dinâmica de trabalho que fosse mais circular, coletiva e horizontal. Os próprios quilombolas acusavam a proposta de encaminhamento de serem orientações ainda obedientes a uma racionalidade escolar, disciplinar e urbana. É verdade que este tipo de crítica já vinha de quilombolas que, tendo escolarização e/ou formação via movimentos sociais, podiam se opor a ela. É verdade que, fora do contexto, esta postura pode se assemelhar a uma espécie de auto-exotização, uma simples estratégia de maximizar diferenças, mas o fato é que, fosse qual fosse a sua formulação, ela contemplava e expressava a posição dos outros quilombolas presentes. Pareciam ecoar, enfim, a afirmativa de Lévi-Strauss, que descrevia a existência de modos alternativos e legítimos, nem mais, nem menos racionais e eficazes de organizar e refletir sobre o mundo, desde os chamados povos primitivos às sociedades modernas. Ele apontava no modelo ocidental de reflexão a necessidade de fragmentar. Conforme Descartes propôs e sistematizou, para resolver uma dificuldade, o ocidental precisa dividi-la em tantas parcelas quanto forem necessárias, para melhor resolvê-las. Uma tendência que separa o sensível do inteligível, o pensamento dos corpos, o raciocínio da dança. Por outro lado, porém, no enorme acervo que modos de pensar alternativos ao ocidental, o autor reconhecia a tendência oposta, que só reconhecia como válida uma abordagem que fosse integrada e total, que construísse uma compreensão também por meio das sensações. Como, aliás, ele mesmo apontava, a ciência contemporânea tende a fazer, quanto mais ela se afasta do século XIX.
Por que não pensar encontros quilombolas a partir de estratégias de organização mais amplas que expressem valores manifestos nas comunidades quilombolas - ancestralidade, tradição, família, corporeidade, valorização dos saberes tradicionais, comunitários e solidários, -, presentes nas relações educativas cotidianas e numa forma de se fazer política à moda quilombola?
Talvez uma das primeiras lições destas reflexões acerca deste IV Encontro Nacional da CONAQ seja justamente questionar o modelo de organização que está sendo oferecido a estas comunidades, e que, em lugar de favorecer, pode estar dificultando a sua participação e impedindo sua representação. A fim de realizar a democracia é preciso reinventá-la e, neste caso, por meio da atenção à lógica política, cultural e organizativa das comunidades quilombolas. Cabe ao movimento e à rede de apoiadores sofisticarem suas ferramentas de apoio, mobilização e intervenção. É preciso refletir sobre em que medida a diferença que marca a existência destes grupos pode ter um alcance mais amplo do que aquele para o qual estamos inicialmente preparados. Tais particularidades podem ter um impacto para além do plano das políticas e da relação com o Estado, atingindo também e positivamente os nossos modos de conceber a participação, a representação e, enfim, a educação.


[1] Historiador, Antropólogo.
[2] Mestranda em Educação PUC-RJ. Bolsista do Programa Internacional de Bolsas da Fundação Ford.

sábado, 10 de setembro de 2011

“Os pretos dos Breves permaneceram nas fazendas” – A Ilha da Marambaia no pós-abolição

Há mais de vinte anos, em 1988, em torno das comemorações pelos 100 anos da Abolição diversos seminários abriram uma nova pauta de pesquisa e re­flexão sobre a escravidão e a Abolição no Brasil. Desde então, tem sido impressio­nante acompanhar a renovação historiográfica em todo o país, especialmente no campo dos estudos de escravidão. Como destacou Eduardo Silva na conferência de abertura, o tema da Abolição e do Pós-Abolição não recebe desde então as mes­mas atenções. No seminário que realizamos em 2010, a presença de tantos jovens e qualificados pesquisadores, de diversos programas de pós-graduação do Brasil, interessados nas temáticas da liberdade certamente indica que estamos diante de outro momento de renovação, agora mais centrado nos desafios colocados pelo desmonte da escravidão e pelas lutas sociais posteriores a 1888. A variedade de temáticas, fontes e discussões, permite-nos, além de demonstrar a riqueza do se­minário, vislumbrar promissores desdobramentos futuros, quando esses jovens historiadores divulgarem seus trabalhos finais e tornarem-se formadores de outros jovens, pesquisadores, professores e historiadores.

Trecho da "Apresentação" do livro Caminhos da liberdade : histórias da abolição e do pós-abolição no Brasil / Martha Abreu e Matheus Serva Pereira (orgs.) . – Niterói : PPGHistória- UFF, 2011.

 Nele foi fublicado o artigo de Daniela Yabeta, pesquisadora do Lapf:
“Os pretos dos Breves permaneceram nas fazendas” – A Ilha da Marambaia no pós-abolição - Daniela Yabeta (UFF), pp. 501-509

domingo, 24 de julho de 2011

Colóquio: Dispositivos urbanos e tramas dos viventes: ordens e resistências


Colóquio: “Dispositivos urbanos e tramas dos viventes: ordens e resistências”
09 a 11 de novembro na UERJ, Rio de Janeiro

Em Foucault a idéia de dispositivo, essencialmente estratégica, é a de um conjunto produzido pelo cruzamento heterogêneo de relações de poder e de saber.  Vamos tomá-la como referência inicial para pensar algumas questões relativas ao “urbano”. As grandes metrópoles têm enfrentado permanentemente imposições do modelo econômico liberal que, por sua vez, se apresentam e se articulam com projetos variados de estruturação e ordenamento da cidade no plano político, social e cultural. Políticas de habitação, de patrimônio, de cultura, de gestão de conflitos, de “pacificação”, de controle ambiental, de combate à criminalidade - todas, sem exceção, possuem como um dos seus elementos ordenadores a presença de uma população “pobre” na cidade, vista como a grande “questão social” a ser “resolvida”. De modo geral, esses projetos ancoram-se em discursos que, tendo a temática da ordem urbana como mote, promovem horizontes sociais e políticos bastante heterogêneos em termos da gestão da cidade. No entanto, há neles uma premissa em comum, a saber, colocam aqueles identificados como pobres como o grande obstáculo ao seu desenvolvimento. O objetivo deste colóquio é promover uma discussão que nos ajude a analisar os dispositivos postos em funcionamento para gerir a pobreza e as formas de resistência de indivíduos e grupos que afloram e também estruturam a vida em espaços diversos. Quais têm sido as margens de manobra, as adaptações, as escolhas, os horizontes e as táticas de resistência que encontramos em nossos estudos de caso, no interior desse universo sem limites precisos, mas atravessado por fronteiras variadas, que é o da pobreza urbana? 
Patricia Birman e Carly Machado


09 de novembro: 


9h Abertura
Palestra de Michel Agier (EHESS/Paris)
Debatedora: Cornélia Eckert (PPGAS/UFRGS)

14h Mesa-redonda: Entre o legal e o ilegal: práticas e discursos sobre o urbano

A questão do deslizamento entre o “legal” e o “ilegal”, já apontada por diferentes autores, ganha relevância quando levamos em conta os alvos precisos das políticas urbanas. Percebemos no Rio de Janeiro, bem como em outras metrópoles, políticas variadas que se projetam em nome do combate ao crime, da “pacificação” de territórios, do “meio ambiente”, da “modernização” da cidade, do “desenvolvimento do turismo” e do “resgate do patrimônio”. Seus entrelaçamentos, contradições e complentaridades na definição dos estatutos, direitos, atribuições e pertencimentos identitários das populações concernidas têm engendrado efeitos também múltiplos nas tramas de vida dos indivíduos. Como analisá-los?
Fernando Rabossi (IFCS/UFRJ)
Lia Mattos (UERJ)
Rafael Gonçalves (PUC-Rio)
Cesar Pinheiro Teixeira (IFCS/UFRJ)
Moderadora: Patrícia Birman (UERJ)
Debatedora: Sandra de Sá Carneiro (UERJ)

10 de novembro:
“Presos do lado de fora”: periferias, quilombos, favelas e ocupações

A nossa tentativa, como a expressão foulcauldiana acima sugere, é de aproximar essas diferentes identificações territoriais que hoje concernem aos moradores das metrópoles. De um lado, trata-se de levar em conta o fato de que todos esses espaços são marcados por uma forma de exclusão da cidade “oficial” De outro lado, tentaremos destacar as dificuldades, as ações e as dinâmicas que acompanham a identificação, sempre instável, das fronteiras impostas e dos estatutos sociais e políticos dos seus habitantes. De que forma é possível aproximar e distinguir as demandas e as dificuldades enfrentadas pelos moradores de uma metrópole quando encarados através do pertencimento a esses diferentes territórios?

9h Mesa-redonda
Veronique Boyer (CNRS)
Delma Pessanha (UFF) 
José Maurício Arruti (PUC-Rio)
Jerome Souty (UERJ)
Moderadora: Simone Vassalo  (UERJ)
Debatedor: André Figueiredo (UFRuralRJ)

14h Mesa-redonda
Jussara Freire (UENF)
Bianca Medeiros (FGV)
Adriana Fernandes (UERJ) 
Amanda Dias (Global Prayers)
Moderadora: Maria Josefina (UERJ)
Debatedora: Clara Mafra (UERJ)

11 de novembro:

10h  
Palestra: Vera Telles (USP)
Debatedor: Michel Agier (EHESS/Paris)

14h Mesa-redonda: Experiências de terror: revelação e ocultamento
Entre projetos de ordem e de resistências mais ou menos explícitas, uma margem de experiências de terror se encontra em uma zona submersa e quase invisível no meio urbano. Não é que não se saiba, ao contrário, tortura e crimes bárbaros estão sempre nas manchetes dos jornais. A revelação, como diria Michael Taussig, não exclui mas exige também um ocultamento. Pretendemos tratar aqui da dinâmica que envolve esses dois movimentos: de um lado, através do que se destaca pela mídia; e de outro lado, através do que se oculta, ou ainda, do que se invisibiliza quando se revela o terror dos crimes cotidianos. Como identificar e analisar os contextos, as situações e os atores dessas experiências de terror?
José Claudio Souza Alves (UFRuralRJ)
Carly Machado (UFRuralRJ)
Juliana Farias (IFCS/UFRJ)
Myriam Santos (UERJ)
Adriana Vianna (MN/UFRJ)
Moderação e Encerramento:  Márcia Leite (UERJ)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Novo texto do Lapf publicado em livro sobre Educação e realidade quilombola



Confira o texto
EDUCAÇÃO QUILOMBOLA EM DEBATE: A ESCOLA EM CAMPINHO DA INDEPENDÊNCIA (RJ) E A PROPOSTA DE UMA PEDAGOGIA QUILOMBOLA 
de José Maurício Arruti, Kalyla Maroun e Ediléia Carvalho, pesquisadores do Lapf, no livro:
Construindo Quilombos, desconstruindo mitos: a Educação Formal e a realidade quilombola no Brasil, organizado por Ana Stela de Almeida Cunha (São Luís, SETAGRAF, 2011, pp. 29-44)

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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Direitos Humanos, Memórias e Políticas de Reconhecimento


IX RAM - Reunião de Antropologia do Mercosul
UFPR, Curitiba, de 10 a 13 de julho de 2011

GT30 - Direitos Humanos, Memórias e Políticas de Reconhecimento

Valentina Salvi (Conicet)
Marcella Beraldo de Oliveira (UFJF)
Liliana Lopes Sanjurjo (UNICAMP)

O GT propõe discutir a temática dos Direitos Humanos considerando a generalidade e a localidade em que essa categoria é acionada, articulando a universalidade e a particularidade de seus usos. Afastando-se das discussões teóricas mais normativas, a idéia é problematizar como a noção de Direitos Humanos – que se remete à articulação entre os chamados direitos sociais e as liberdades individuais, bem como à diversidade cultural e a defesa dos valores democráticos –, é apropriada e instrumentalizada por distintos atores sociais para a negociação de direitos em situações estratégicas específicas. Priorizaremos trabalhos vinculados a dois eixos temáticos: 1) o debate acerca da memória e violência das ditaduras do Cone Sul (direito à verdade, luta contra a impunidade, direito a identidade, reparação e reconhecimento); e 2) questões sobre direitos de cidadania e desigualdades sociais em que diferenças étnicas, de classe, sexuais, etárias, geracionais, religiosas etc, são base para discriminações e construções de hierarquias.

Para visualizar a programação completa deste GT clique aqui



3ª Sessão: Educação, Direitos e Políticas de Reconhecimento
Coordenação: Marcella Beraldo de Oliveira(UFJF)

Debate: José Maurício Arruti(PUC-Rio), Valentina Salvi (UBA-CONICET)
Título Tipo Participantes Resumo Trabalho completo
Los indígenas en Salta (Argentina) despues de las políticas de reconocimiento. Perspectivas Oral Catalina Buliubasich - Autor (CEPIHA. UNSa)

Educação em Direitos Humanos: a justiça social em debate Oral Brena Costa de Almeida - Autor ()
Ana Caroline A. Oliveira - Co-Autor (UFMA)
Flavio L. Castro Freitas - Co-Autor (UFMA)

O Direito das Crianças na sociedade dos Adultos: Diferenças de Compreensão, Conflito e Superação. Oral Antonio Luiz da Silva - Autor (UFPB)

Passaporte cultural e político: observações sobre a inserção das religiões no espaço publico escolar Oral Maria Edi da Silva - Autor (UFPE)

SER OU NÃO SER MINORIA: A (DES)CONSTITUIÇÃO DA REALIDADE PELO DIREITO NO CASO CAIÇARA Oral Larissa Mizutani - Autor (UnB)

NO CORAÇÃO DA SELVA: ATENTADOS À CONDIÇÃO HUMANA NA FRONTEIRA FRANCO-BRASILEIRA Oral Dorival da Costa dos Santos - Autor (UFF)

"Conflictos sociales y representaciones colectivas: su abordaje en las instituciones escolares" Oral María Luján Bertella - Autor (UNTREF / UBA)

A Fala de Tupã’I, Vida e Afirmação de um Líder Guarani: os novos caminhos da liderança indígena. Painel José Henrique Prado - Autor (UFGD)
Bruna Egidio - Co-Autor (UFMS)

Repertorias.Un tiempo y un lugar para contar nuestras historias. Painel Daniel Trincheri - Autor (FBA UNLP)
Marcela Trincheri - Co-Autor ()
Adriana Clavijo - Co-Autor ()

Efetividade dos Direitos Humanos na execução da pena:Uma análise no Presídio Regional de Santa Maria Painel Alessandra Alfaro Bastos - Autor (UFSM)

Etnografias e Culturas Escolares no Mundo Ibero-Latino-Americano


IX RAM - Reunião de Antropologia do Mercosul
UFPR, Curitiba, de 10 a 13 de julho de 2011

GT37 - Etnografias e Culturas Escolares no Mundo Ibero-Latino-Americano

Amurabi Oliveira (UFAL)
Sandra Tosta (PUC-MG)
Ricardo Vieira (IPL – Portugal)

Na antropologia, questões que dizem respeito às formas de produção, transmissão e distribuição do conhecimento, nas diversas sociedades e culturas tem-se mostrado uma constante em seu debate. Longe de configurar algo novo, como nos aponta Gusmão, o diálogo entre a antropologia e a educação remonta ao próprio debate do culturalismo americano, iniciado por Boas, mas continuado por autores como Mead e Benedict. Buscamos aqui alargar o debate entre estes dois campos, destacando o universo escolar como objeto antropológico, bem como a etnografia como possibilidade metodológica para o este universo. Pensar a educação (e a escola de modo particular), como universo de práticas, representações, fricção interétnica, etc, é trazer à tona a necessidade de lançar um olhar antropológico sobre tal realidade. Abrimos, assim, a possibilidade para os mais diversos diálogos possíveis entre estes dois campos, destacando o caráter polifônico desta articulação.


Trabalho do Lapf:
José Maurício Arruti -(PUC-Rio)
- O debate em torno de uma “educação quilombola” – notas entre o micro e o macro
Resumo:
Este trabalho tem o objetivo de apresentar um breve panorama do debate que começa a ser desenhado em torno de uma proposta de "educação diferenciada", voltada especificamente para as populações quilombolas. Tendo por referência desde os macro-dados do Censo Escolar, até a etnografia de uma disputa local, travada no contexto de uma comunidade quilombola em particular, mas passando também por experiências municipais, estaduais e nacional de definição de Diretrizes para a “educação quilombola”, nossa investigação busca delimitar o campo de mediações políticas, institucionais e culturais em torno do tema, destacando os pressupostos e categorias centrais do debate. Para isso será fundamental identificar as relações entre a emergente idéia de "educação quilombola" e experiências anteriores e já relativamente consolidadas, como a Educação Indígena e a Educação do Campo.

Para visualizar a programação completa deste GT clique aqui



Os usos da antropologia em tempos de multiculturalismo oficial


IX RAM - Reunião de Antropologia do Mercosul
UFPR, Curitiba, de 10 a 13 de julho de 2011


MR 35 - Os usos da antropologia em tempos de multiculturalismo oficial: dilemas e desafios da relação atual entre antropologia e estado

Coordenação: José Maurício Arruti (PUC-Rio)
Coordenação: Miriam Hartung (UFSC)
José Antonio Kelly (UFSC)
Morita Carrasco (UFBA)
Vânia R. Fialho e Souza (UFPE)

13/07/2011 – 4ª feira – Horário: 9h-11h30

Os Estados latino-americanos contemporâneos foram marcados, na última década, pela disseminação de reformas constitucionais e pela implantação de políticas de reconhecimento da diversidade sócio-cultural. Ao inverter o postulado assimilacionista e assumir o multiculturalismo como matriz política e jurídica, buscam incorporar novos saberes e gramáticas, cujo fundamento está na Antropologia. Tal reaproximação entre Antropologia e Estado já não pode ser vista nem como variação do papel da disciplina no empreendimento colonial, nem apenas como crítica ao Estado monocultural e nem pode ser interpretada dentro dos estreitos limites do debate operacional e metodológico. Tal relação implica, hoje, em novas tensões, desafios e dilemas. Trata-se, pois, de discutir o ponto de vista da disciplina neste novo contexto de reaproximação com o Estado e o impacto dessa relação sobre seus pressupostos teóricos.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Estudos sobre Mediação e Alteridade



Seminário do Grupo de Estudos sobre Mediação e Alteridade (GEMA)
Universidade Federal de São Paulo / CEBRAP - 25 a 27 de maio de 2011

Universidade Federal de São Paulo - 25 a 26 de maio de 2011 

Religião e alteridade
Data: 25 de maio de 2011
Horário: 14h00-16h30

Em debate: 
Missões católicas e protestantes no Planalto Central angolano colonial em perspectiva comparada – Iracema Hilário Dulley (Doutoranda – USP/Cebrap)
Controvérsias e alteridade: um primeiro olhar sobre a circuncisão em mulheres Kikuyu no Quênia – Alessandra Gando Guerra (Graduanda – Unicamp/Cebrap)
Construindo alteridades: relações entre padres, pastores e xamãs na descrição antropológica e histórica – Thiago Fijos de Souza (Graduando – Unifesp/Cebrap)

Debatedores convidados: 
Prof. Dr. John Monteiro (Unicamp)
Prof. Dr. Omar Thomaz (Unicamp)
Profa. Dra. Cristina Pompa (Unifesp/Cebrap)

Horário: 17h00-19h30
Exposição: “Outros Outros: Um Jesuíta, um Brâmane e as Fronteiras da Alteridade na Índia, Século XVII” – Prof. Dr. John Monteiro
"A antropologia, os campos e a etnografia de situações limite" – Prof. Dr. Omar Thomaz (Unicamp)
Construindo o outro: a herança das categorias missionárias – Profa. Dra. Cristina Pompa (Unifesp/Cebrap)

Religião e debates públicos

Data: 26 de maio de 2011
Horário: 09h00-11h00

Em debate: 
Religião, televisão e esfera pública: por uma abordagem relacional – Leonardo Siqueira Antonio (Mestrando – PPGCS/Unifesp/Cebrap)
O vai e vem dos conceitos: de categoria analítica a categoria nativa ou vice versa. O caso do sincretismo – Profa. Dra. Melvina Afra Mendes de Araújo (Unifesp/Cebrap)
“Temos compromisso com os pobres”: processos de construção de alteridade e mediação entre protestantes históricos e “comunidades carentes” – Dra. Eva Lenita Scheliga (Cebrap)
Lendo Museus Salesianos – Aramis Luis Silva (Doutorando – USP/Cebrap)
Debatedores convidados: 
Profa. Dra. Patrícia Birman (UERJ)
Prof. Dr. Rúrion Melo (Unifesp/Cebrap)

Religião, mediação e identidades
Data: 26 de maio de 2011
Horário: 11h30-13h30

Em debate: 
“Comunidades remanescentes de quilombos” – Sabrina D’Almeida (Mestranda – PPGCS/Unifesp/Cebrap)
Sobre ‘violência’ em terras Yanomami – João Roberto Bort Júnior (Mestrando –PPGCS/Unifesp/Cebrap)
Os sinais da missão: disputas em torno da legitimidade da libras e do português sinalizado na Igreja Católica – Dr. César Augusto de Assis Silva (Pós-doutorando – Cebrap)
Debatedores convidados: 
Profa. Dra. Paula Montero (USP/Cebrap)
Prof. Dr. José Maurício Arruti (PUC/Rio)

Cebrap – 27 de maio de 2011 

Horário: 16h00-19h30
Exposição: 
"Utopias, heterotopias e alguns processos de mediação" – Profa. Dra. Patrícia Birman (UERJ)
“Alteridade: um objeto antropológico?” – Profa. Dra. Paula Montero (USP/Cebrap)
Em torno dos ‘processos de formação’ – Prof. Dr. José Maurício Arruti (PUC/RJ)
“Liberalismo e teoria crítica: Dois diagnósticos sobre a religião na esfera pública” – Prof. Dr. Rúrion Melo (Unifesp/Cebrap)