O Lapf foi criado em 2008 no âmbito do Departamento de Educação da PUC-Rio, tendo sido registrado no diretório do CNPq entre 2009 e 2011. Seu objetivo foi a promoção da análise dos processos de agenciamento de identidades, memórias e territórios coletivos, em sua relação com os processos de produção e transmissão do conhecimento, tanto em suas modalidades escolares quanto não escolares. A partir de 2012, porém, suas atividades regulares foram encerradas. Este espaço permanece disponível como registro desta experiência de pesquisa e como meio para que seus antigos participantes eventualmente possam continuar divulgando e promovendo o tema.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Relatório sobre Comunidades Quilombolas do Sapê do Norte

Como contribuição à missão da Plataforma DHESCA, que abordará o tema Educação e racismo no Brasil (>[]<), colocamos a disposição da equipe responsável pelo eixo “Educação Quilombola”, assim como da CONAQ, que apoiará os seus trabalhos na missão que será realizada entre as comunidades do Norte do Espírito Santo, o relatório do projeto “Territórios Negros do Sapê do Norte” (2005).

Trata-se do relatório técnico de uma experiência de pesquisa-ação realizada entre as comunidades negras rurais dos municípios de Conceição da Barra e São Mateus, região nordeste do estado do Espírito Santo, também conhecida como “Sapê do Norte” que começou a ser realizado em 2000 e foi entregue às comunidades em 2005.

Este projeto foi elaborado depois de uma série de visitas à região, ao longo do ano de 2000, durante as quais realizamos uma série de consultas às diferentes agências e agentes com atuação na região, com o objetivo reunir parceria na investigação sobre o quanto a vasta população negra rural daqueles municípios poderia ser reconhecida como comunidades remanescentes de quilombos.

Feitas as primeiras consultas, ficou evidente que o projeto não poderia ser desenvolvido como uma pesquisa acadêmica strictu-sensu, ou como uma investigação pensada apenas do ponto de vista técnico. A vivacidade dos movimentos sociais da região, a forte presença de assessorias políticas e de organizações não-governamentais e o crescente embate destes contra a presença e ação de uma grande empresa multinacional, acusada como responsável pela expropriação territorial de praticamente toda a população camponesa, negra e indígena, daqueles dois municípios, imprimiu um caráter novo à nossa proposta inicial.

Três questões principais orientaram a reelaboração dos nossos objetivos originais: (a) uma demanda por ampla formação ou “capacitação” no tema e na legislação relativa aos “remanescentes de quilombos”; (b) a recusa das comunidades locais e suas lideranças em serem tomadas novamente como “objeto” de pesquisas sobre as quais nada sabiam e das quais nunca tinham qualquer retorno, ou não eram capazes de apropriar dos resultados; e, finalmente, (c) a exigência de que esta pesquisa servisse para que as próprias lideranças dos movimentos sociais da região pudessem levantar informações úteis aos seus objetivos. Estes três pontos constituíam a pauta para uma reformulação da nossa proposta.

Entusiasmados com a ampliação do universo de pesquisa inicialmente previsto, assim como com a grande repercussão e expectativas locais que as nossas conversas produziram, reformulamos nosso projeto de pesquisa a partir de três aspectos: (a) o estudo de caso ou abordagem monográfica deu lugar à abordagem estatística baseada em um survey relativo à totalidade das comunidades da região; (b) de um corpo de pesquisadores contratados entre estudantes universitários, passamos à idéia de treinar e trabalhar como os agentes locais; e, assim, (c) do método etnográfico chegamos a uma proposta de pesquisa-ação.

Para isso elaboramos uma estratégia de pesquisa centrada na idéia de “formação” do público local em pelo menos dois aspectos fundamentais: no tema conceitual e legal dos remanescentes de quilombos e nos procedimentos de elaboração, planejamento, realização e leitura da pesquisa social.

O relatório cujo atalho segue abaixo foi o resultado deste enorme esforço, que formou quase uma dúzia de jovens pesquisadores e percorreu quase 1.200 famílias quilombolas no dois municípios do Norte do Espírito Santo.

jm arruti


Arruti, J. M. 2005. RELATÓRIO QUILOMBOS DO SAPÊ DO NORTE - As comunidades negras rurais dos municípios de Conceição da Barra e São Mateus - ES. Rio de Janeiro: Koinonia.

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