Coluna
Convivendo com a Diferença
O QUE SÃO OS QUILOMBOLAS?
Riqueza cultural desconhecida
(entrevista com José Maurício Arruti)
Os quilombolas são parte importante da cultura brasileira e por vezes desconhecidos de muitas pessoas. Talvez por isso, apesar da riqueza cultural, as dificuldades enfrentadas para preservação são imensas. Conversamos com José Maurício Arruti, do LAPF (Laboratório de Antropologia dos Processos de Formação) da PUC-RJ e editor do site Observatório Quilombola para entender melhor este cenário.
O termo cobria, portanto, situações sociais que iam desde Palmares, que era uma verdadeiro reino autônomo, formado de milhares de pessoas, organizadas em aldeias, com sistema político, força armada e sistema de comércio, até um micro-grupo de pessoas famintas vagando pela estrada, vivendo de pequenos assaltos ou da solidariedade das senzalas, passando por formações sociais tipicamente urbanas, fixas, conhecidas e localizadas no centro da cidade imperial.
Quando veio a República, o termo desapareceu da legislação em função da abolição. Mas, em 1988 o termo voltou, agora fazendo parte da nossa Constituição. Neste caso, porém, apesar de continuar sendo tão impreciso e ambíguo quanto nos períodos colonial e imperial, ele passou a ter um sentido positivo e não mais negativo. O termo foi novamente ressemantizado, agora para garantir o direito às terras para aquelas comunidades negras que mesmo depois da abolição tivessem permanecido em suas terras, apesar destas em geral nunca terem sido legalizadas. Parte destas comunidades tem origem em antigos quilombos, no sentido colonial do termo, mas outra grande parte tem outras origens. Podem ter comprado suas terras, herdado, ocupado terras abandonadas por antigos proprietários falidos com a abolição etc. Mas algumas coisas são muito recorrentes entre elas: tais grupos formam comunidades em um sentido sociológico, por serem compostas de um número limitado de participantes e por estes estarem ligados por complexos laços de parentesco e aliança, assim como por usarem suas terras em regime de uso comum, quase sempre sem terem a devida documentação delas.
E tais terras raramente foram documentadas em função de uma lista quase infinita de razões, mas que encontram um ponto em comum no modo preconceituoso e racista de funcionamento de nossas instituições oficiais. Ocorreram campanhas de colonização européia, que promoveram a legalização das terras ocupadas, por exemplo, mas isso não aconteceu no caso dos ex-escravos. De outro lado, tais comunidades tem grandes dificuldades de até mesmo serem recebidas pelas autoridades locais ou estaduais, ficando fora da maioria das políticas públicas oficiais.
O Ministério da Saúde, por meio das ações da FUNASA tem estendido até estas comunidades algumas ações do PAC e, finalmente, o Ministério do Desenvolvimento Agrário tem aberto algumas linhas especiais de crédito agrícola. Mas tudo isso ainda é muito novo e nem mesmo os órgãos responsáveis estão totalmente preparados para ofertar estas novas políticas. Parte dos seus funcionários não estão isentos de um preconceito historicamente construído contra tais populações e, mesmo quando estes têm boa vontade, há muitas dificuldades burocráticas para a validação desses novos direitos, justamente por serem novos. Os próprios operadores da Justiça insistem em desconhecerem ou questionarem as garantias constitucionais, legais e incorporadas no nosso ordenamento jurídico a partir de acordos internacionais, como é o caso da dificuldade de aplicarmos a Convenção 169 da OIT.
Já o Lapf – Laboratório de Antropologia dos Processos de Formação, é um núcleo de estudo e pesquisas da PUC-Rio, ligado ao Departamento de Educação desta Universidade. Atualmente nós temos algumas pesquisas relacionadas ao tema, de iniciação científica, de mestrado e doutorado, assim como temos um projeto coletivo, de levantamento da situação escolar das comunidades quilombolas do Rio de Janeiro. Além disso, no final do ano passado realizamos um seminário sobre o tema, com representatividade nacional. O projeto agora é publicar este primeiro seminário e nos organizarmos para o segundo.
Riqueza cultural desconhecida
(entrevista com José Maurício Arruti)
Os quilombolas são parte importante da cultura brasileira e por vezes desconhecidos de muitas pessoas. Talvez por isso, apesar da riqueza cultural, as dificuldades enfrentadas para preservação são imensas. Conversamos com José Maurício Arruti, do LAPF (Laboratório de Antropologia dos Processos de Formação) da PUC-RJ e editor do site Observatório Quilombola para entender melhor este cenário.
- O que são os quilombolas e quem vive neles?
O termo cobria, portanto, situações sociais que iam desde Palmares, que era uma verdadeiro reino autônomo, formado de milhares de pessoas, organizadas em aldeias, com sistema político, força armada e sistema de comércio, até um micro-grupo de pessoas famintas vagando pela estrada, vivendo de pequenos assaltos ou da solidariedade das senzalas, passando por formações sociais tipicamente urbanas, fixas, conhecidas e localizadas no centro da cidade imperial.
Quando veio a República, o termo desapareceu da legislação em função da abolição. Mas, em 1988 o termo voltou, agora fazendo parte da nossa Constituição. Neste caso, porém, apesar de continuar sendo tão impreciso e ambíguo quanto nos períodos colonial e imperial, ele passou a ter um sentido positivo e não mais negativo. O termo foi novamente ressemantizado, agora para garantir o direito às terras para aquelas comunidades negras que mesmo depois da abolição tivessem permanecido em suas terras, apesar destas em geral nunca terem sido legalizadas. Parte destas comunidades tem origem em antigos quilombos, no sentido colonial do termo, mas outra grande parte tem outras origens. Podem ter comprado suas terras, herdado, ocupado terras abandonadas por antigos proprietários falidos com a abolição etc. Mas algumas coisas são muito recorrentes entre elas: tais grupos formam comunidades em um sentido sociológico, por serem compostas de um número limitado de participantes e por estes estarem ligados por complexos laços de parentesco e aliança, assim como por usarem suas terras em regime de uso comum, quase sempre sem terem a devida documentação delas.
- O que são terras de uso comum e porque elas não foram documentadas?
E tais terras raramente foram documentadas em função de uma lista quase infinita de razões, mas que encontram um ponto em comum no modo preconceituoso e racista de funcionamento de nossas instituições oficiais. Ocorreram campanhas de colonização européia, que promoveram a legalização das terras ocupadas, por exemplo, mas isso não aconteceu no caso dos ex-escravos. De outro lado, tais comunidades tem grandes dificuldades de até mesmo serem recebidas pelas autoridades locais ou estaduais, ficando fora da maioria das políticas públicas oficiais.
- Quais a principais dificuldades enfrentadas pelos quilombolas?
- Que tipo de ajuda/suporte o Governo Federal provê aos quilombolas?
O Ministério da Saúde, por meio das ações da FUNASA tem estendido até estas comunidades algumas ações do PAC e, finalmente, o Ministério do Desenvolvimento Agrário tem aberto algumas linhas especiais de crédito agrícola. Mas tudo isso ainda é muito novo e nem mesmo os órgãos responsáveis estão totalmente preparados para ofertar estas novas políticas. Parte dos seus funcionários não estão isentos de um preconceito historicamente construído contra tais populações e, mesmo quando estes têm boa vontade, há muitas dificuldades burocráticas para a validação desses novos direitos, justamente por serem novos. Os próprios operadores da Justiça insistem em desconhecerem ou questionarem as garantias constitucionais, legais e incorporadas no nosso ordenamento jurídico a partir de acordos internacionais, como é o caso da dificuldade de aplicarmos a Convenção 169 da OIT.
- Existem quilombolas no exterior?
- Como atuam o Observatório Quilombola e o Lapf?
Já o Lapf – Laboratório de Antropologia dos Processos de Formação, é um núcleo de estudo e pesquisas da PUC-Rio, ligado ao Departamento de Educação desta Universidade. Atualmente nós temos algumas pesquisas relacionadas ao tema, de iniciação científica, de mestrado e doutorado, assim como temos um projeto coletivo, de levantamento da situação escolar das comunidades quilombolas do Rio de Janeiro. Além disso, no final do ano passado realizamos um seminário sobre o tema, com representatividade nacional. O projeto agora é publicar este primeiro seminário e nos organizarmos para o segundo.
- Sugestões bibliográficas de livre acesso na internet:
- Os quilombolas no Brasil: questões conceituais e normativas (arquivo .pdf)
- Sobre religiões, festas, negritudes e indianidades no Nordeste contemporâneo (arquivo .pdf)
- Mocambo: antropologia e história no processo de formação quilombola (arquivo .pdf)
- A política do reconhecimento dos "remanescentes das comunidades dos quilombos
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