O Lapf foi criado em 2008 no âmbito do Departamento de Educação da PUC-Rio, tendo sido registrado no diretório do CNPq entre 2009 e 2011. Seu objetivo foi a promoção da análise dos processos de agenciamento de identidades, memórias e territórios coletivos, em sua relação com os processos de produção e transmissão do conhecimento, tanto em suas modalidades escolares quanto não escolares. A partir de 2012, porém, suas atividades regulares foram encerradas. Este espaço permanece disponível como registro desta experiência de pesquisa e como meio para que seus antigos participantes eventualmente possam continuar divulgando e promovendo o tema.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Mini-curso: A memória como problema histórico-antropológico e objeto etnográfico (EHONE 2009)

VII Encontro de História Oral do Nordeste

Aracaju, UFS, 26 a 29 de outubro de 2009


CANCELADO

Mini-curso:

A memória como problema histórico-antropológico e objeto etnográfico

Prof. José Maurício Arruti (PUC-Rio)


Ementa (até 5 linhas):

Temas da Antropologia histórica e da História antropológica; teorias da memória social: individuo, coletividade, invenção e esquecimento; reflexões sobre o trabalho etnográfico com as narrativas populares: memória histórica, memória ritual e memória territorial; a relação entre memórias locais, etnicidade e histórias oficiais: processos de reconhecimento de grupos indígenas e quilombolas.


Objetivos (até 10 linhas):

O objetivo deste mini-curso é oferecer uma visão condensada do trabalho etnográfico com narrativas memoriais de caráter étnico, que toma por base uma leitura adensada dos trabalhos de M. Halbwachs e meus próprios trabalhos acadêmicos e técnicos (produção de laudos e relatórios) sobre comunidades indígenas e quilombolas. Como base nos trabalhos realizados entre os Pankararu (PE) e Xocó (SE) e com as comunidades Mocambo (SE), Cangume (SP), Preto Forro (RJ), Marambaia (RJ) e Cabral (RJ), abordaremos questões de fundo sobre o tema da memória social e da história oral, assim como buscaremos avançar nas formulações acerca de uma Antropologia histórica.


Metodologia (de 10 a 20 linhas):

O curso será dividido em duas partes. A primeira será dedicada à apresentação da literatura antropológica e sociológica pertinente, sobre memória, história oral e etnografia processual. O sociólogo francês M. Halbwachs ocupará aí um lugar central, a partir do qual teceremos diálogo com uma série de outros autores, de forma a desenvolver temas importantes levantados por ele. A segunda parte será dedicada à apresentação e discussão de experiências e trabalhos etnográficos que tomaram tais temas como centro ou apoio para sua reflexão sobre grupos étnicos indígenas e quilombolas, seus processos de territorialização e reconhecimento oficial.


Justificativa (de 10 a 20 linhas):

Ainda que o recurso à memória esteja presente na produção dos próprios dados etnográficos, muito raramente lhe foi dado o estatuto de objeto antropológico. Mesmo quando a disciplina preocupa-se com o tempo, seu interesse está nas “representações” do tempo, da pessoa, do espaço, morfologia ou estrutura social (M. Mauss, Evans-Pritchard, E. Leach, C. Geertz etc.) ou nos “processos sociais”, na relação entre “estrutura e evento” (M. Gluckhman, F. Barth, N. Elias, M. Sahlins etc.). Não se há, porém, uma discussão específica sobre as formas de armazenar, transmitir, recuperar, utilizar, recriar e interpretar os fatos do passado.

Por outro lado, quando a memória surge como objeto da História, ela é tema mítico (J-P. Vernant, M. Detienne), técnica social (F. Yates, J. Le Goff) ou fonte, seja nos estudos das tradições orais dos “povos sem escrita” ou “sem história” (Vansina, Moniot), ou naquilo que os franceses chamam de uma “história do tempo presente” (Rousso, Voldman, P. Thompson). Nesses casos, porém, a abordagem da memória fica dividida entre o tipo de pergunta que o historiador tradicionalmente aplica às suas fontes escritas (coerência interna, confrontação de versões, ordenamento cronológico etc.) e uma real comunicação com questões de natureza sociológica ou antropológica.

É neste último sentido que os trabalhos de M. Halbwachs (1877-1945) e M. Pollak (1948-1992) tornam-se importantes e servirão de ponto de partida deste curso, como plataforma para se repensar o campo etnográfico e as narrativas indígenas e quilombolas.


Bibliografia (10 referências principais):

1. Arruti, José Maurício. 2006. Mocambo – Antropologia e História do processo de formação quilombola. Bauru, São Paulo: Edusc, Anpocs.

2. Bastide, Roger. 1971 [60]. “Os problemas da memória coletiva”. In: As Religiões Africanas no Brasil, vol.II, pp.333-358.

3. Bourdieu, Pierre. 1986. “L’Ilusion biografique”. Actes de La Recherche en Sciences Sociales, 62/63, pp.69-72.

4. Goody, Jack. 1988. Domesticação do Pensamento Selvagem. Lisboa: Presença.

5. Halbwachs, Maurice. 1990 [50]. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice.

6. Le Goff, Jacques .1992 [90]. “Memória” In: História e Memória . Campinas: Ed. da Unicamp, pp.423-484.

7. Nora, Pierre. 1984. “Entre memoire et histoire. La problematique des lieux” In: Nora (ed.) Les Lieux de Mémoire. Paris: Galimard, pp.vii-xlii.

8. Oliveira, João Pacheco. 1999. Ensaios em Antropologia histórica. Rio de Janeiro: Ed UFRJ.

9. Pollak, Michael. 1986a . “La gestion de l’indicible”. Actes de La Recherche en Sciences Sociales, 62/63, pp.30-53.

10. Severi, Carlo (1993) La memoria Ritual: locura e imagem del blanco en una tradición chamanística ameríndia. Quito: Ediciones Abya-Yala (Biblioteca Abya-Yala no. 30), 306p.

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