O Lapf foi criado em 2008 no âmbito do Departamento de Educação da PUC-Rio, tendo sido registrado no diretório do CNPq entre 2009 e 2011. Seu objetivo foi a promoção da análise dos processos de agenciamento de identidades, memórias e territórios coletivos, em sua relação com os processos de produção e transmissão do conhecimento, tanto em suas modalidades escolares quanto não escolares. A partir de 2012, porém, suas atividades regulares foram encerradas. Este espaço permanece disponível como registro desta experiência de pesquisa e como meio para que seus antigos participantes eventualmente possam continuar divulgando e promovendo o tema.

sábado, 7 de maio de 2011

Museu, repressão, ciência e racismo: o caso do Museu Estácio de Lima em Salvador


O Museu Estácio de Lima (Av. Centenário, s/nº Centenário, Salvador, telefone: 71.3203-1599), da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia, expõe um acervo bastante diversificado, composto de peças que pertenciam ao Dr. Estácio de Lima, assim como aos institutos Pedro Melo, Médico Legal Nina Rodrigues e Criminalística Afrânio Peixoto, que compõem o Departamento de Polícia Técnica do Estado da Bahia.

Apesar do acervo pequeno, o Museu ganhou notoriedade pela natureza da sua coleção. Sua mostra permanente é composta objetos relacionados com o crime e a contravenção (armas, instrumentos de roubo, drogas, aparato de falsificadores, etc.), por restos mortais, órgãos mutilados, fetos monstruosos, aberrações recolhidas por médicos legistas e, por fim, em uma terceira seção, a exposição conta com objetos indígenas e peças de arte sacra afro-brasileira: paramentos, instrumental religioso, ícones, objetos sagrados do culto do candomblé.

O acervo e sua organização refletem a concepção que orientava os primeiros estudos acadêmicos sobre candomblé no Brasil, realizados por médicos, geralmente professores da Faculdade de Medicina da Bahia, como Nina Rodrigues e Estácio de Lima. Eles consideravam que a religiosidade afro-brasileira era manifestação de uma patologia que explicaria também a criminalidade em geral, também associada à população negra. Daí a origem e concepção do Museu, que começou a ser montado em 1901, quando o médico legista Nina Rodrigues reuniu em uma sala na antiga Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, peças criminais e objetos da cultura indígena e afro-brasileira, com o objetivo de ampliar seus estudos antropológicos.

Na década de 1990 foi iniciado um movimento para a retirada das peças sacras afro-brasileiras do Museu, resultando, em 1997, na recomendação do Ministério Público Federal de que tais peças fossem transferidas para o Museu da Cidade.

Até essa data, escolas públicas de Salvador levavam seus alunos, do ensino fundamental e do curso secundário, para visitar a exposição onde objetos de culto do candomblé eram apresentados junto a armas de crime e ao que a medicina chama de monstros. Assim a Faculdade de Medicina da Bahia e, depois, a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia ministraram, durante meio século, espantosas aulas de racismo, sistemáticas, regulares, a um público formado, em grande medida, por crianças e jovens. Quantos preconceitos essa estranha pedagogia da discriminação há de ter plantado? Lembremos que ela invocava a autoridade da Ciência: da Psiquiatria, do Direito, da Medicina Legal... (Serra, 2011)

No vídeo Museu Estácio de Lima a equipe do projeto Egbé de Koinonia apresenta um passeio pelo Museu da década de 1980, que se encerra com trechos de um debate sobre o passeio entre estudantes do ensino médio.

No recente texto A tenacidade do Racismo, o antropólogo Ordep Serra recupera, na forma de um relatório a respeito do caso "e de outras agressões à memória dos cultos Afro-Brasileiros", uma memória desta história e de como ela não está superada.

jm arruti

Nenhum comentário:

Postar um comentário